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15.9.10

Jethro Tao

Ainda jovem Ian Anderson sofreu um duro golpe em sua recém iniciada carreira: ao ouvir Eric Clapton, soube que jamais poderia tocar guitarra melhor do que ele. E com gênios musicais despontando a torto e a direito por todo o Reino Unido, rapidamente consumiam-se todos os psicotrópicos já descobertos e também as últimas opções de instrumentos inéditos para uma banda de rock. Abalado, Ian se retirou para o Lago Ness, onde chorou convulsivamente. Suas lágrimas eram sinceras, e atraíram o famoso Monstro do Lago. Ian debateu-se apavorado e encalhou no lodo das margens ao presenciar atônito a grotesca criatura se elevar acima dele. Pensou que era a hora de se abater a punição do inframundo para sua melancolia infantil... Então, o paquiderme escamoso assumiu o resplendor esmeralda de um Dragão Mitológico, abriu sua bocarra e gentilmente estirou sua língua para fora, ondulando-a qual os degraus de uma escada. Lá de dentro, desceu Lao Tsé.

Antes que Ian pudesse externalizar qualquer surpresa, Laozi o suspendeu do lodo pelo colarinho e o colocou diante de si. Sem mover os lábios, disse:
"- O espaço entre o Céu e a Terra é como uma flauta. Vazia, ainda assim, inexaurível. Soprada, mais e mais sons produz".

Entregou à Ian uma flauta transversal esculpida em ouro e com o peso da seda, e concluiu:
"- Teu instrumento é a Terra, teu sopro é o Céu. O som, eis a obra do Tao".

Ao tocar Flautaoíst, Ian Anderson adquiriu virtuosimo imediato; fundou a seguir o mais improvável e incisivo conjunto de sua época, o Jethro Taoísm (logo contraído para Jethro Tao, e, depois, por pressão dos empresários, Jethro Tull, solução engenhosa que também agradou o público camponês da Escócia). Não é preciso dizer que, além da criação de carpas chinesas empreendida por Anderson, muitas composições supostamente homenageiam Lao Tsé: da célebre Aqualung ("An old man wandering lonely / Taking time / The only way he knows"), passando por My God ("You are the god of everything / He's inside you and me"), até a recente Heavy Horses, praticamente um plágio do epigrama XLVI do Livro do Sentido e da Vida.

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