Licença Creative Commons

12.9.10

Lao Tsé e Sun Tzu

Sun Tzu chegou à província de Gu Ren para ter lições com um mendigo célebre por sua sabedoria universal. Ansiava pela Arte da Guerra, pois havia sido humilhado por sua irmã menor em um jogo de Go. Lao Tsé não sabia quem era, mas o aguardava sentado sobre um lenho tosco de araucária. Ao ver o Mestre, o imberbe Sun saltou de sua girafa e quebrou o pé. Lao conteve um pequeno esboço de riso silencioso com sua longa barba. Sun Tzu rastejou em agonia e assumiu a respeitosa posição do lótus; seu pé disforme era um estame murcho. Lao Tsé, de costas ao neófito, elevou as mãos para o Céu e exercitou os katis do Panda, da Garça, do Tigre, do Bambu, do Gambá e do Ninho de Andorinha em um único e sincrônico movimento. Virou-se e esticou o longo braço na direção de Sun Tsu, que nada percebera. Seu dedo médio, apenas ele, inclinou-se para cima, num ângulo de 90º com a palma da mão, perfeitamente imóvel e paralela ao solo. Perguntou: "- Que vês?". O pupilo, educado na Corte de Wu, não era qualquer Gafanhoto, e, recordando-se de que o idiota acompanhou o dedo ao invés do Céu, respondeu com penetrante olhar para as nuvens: "- O Céu, Mestre!". Antes que pudesse completar a frase, foi violentamente golpeado no nariz e, jorrando lágrimas de sangue, ouviu de Lao Tsé: "- Estúpido é aquele que olha o Céu diante da ameça do kung fu. A força do Tao lhe ensinará a ver as estrelas mesmo sob a luz do dia". E assim Sun Tzu, com mil constelações girantes ao redor de sua cabeça, tornou-se discípulo de Lao Tsé.

2 comentários:

  1. O que seria dos poetas se não fosse a distância das estrelas?
    Como disse o meu mestre Mário Quintana

    ResponderExcluir
  2. Neste caso, seria ainda uma poetisa Helena Colody?

    "Pintei estrelas no muro e tive o Céu ao alcance das mãos".

    Soa muito artificial... Prefiro o Quintana também. Mas o que dizer de Lao, que sem titubear arrancou-as diretamente do Céu e as arremessou contra o nariz de Sun Tzu?

    ResponderExcluir