Licença Creative Commons

18.2.11

"Ninguém foge ao cheiro sujo da lama de MangueTao"

Mestre Yoda, um dos mais importantes discípulos de Lao Tsé, viveu apenas 14 de seus 900 anos em meio aos pântanos do planeta Dagobah. Neste exílio terrível, ainda foi capaz de treinar com as técnicas de autopreservação taoístas ("jedi" no idioma intergaláctico) um pupilo redentor batizado de Lao Skywalker  e apelidado "Luke", mas enfim se deprimiu, convalesceu e expirou. Lao Tsé, ao contrário, vem vivendo  alegremente por centenas de anos nos mais inóspitos hábitats da Terra, e tem especial predileção pelo mangue, o ambiente búdico por excelência, onde Siddhartha Gautama enfim ascendeu à humanidade plena sob a sombra de uma figueira.

Assim, chafurdando no lodo silvestre por incontáveis gerações, Laozi comprovou que a origem do Ser pertence a qualquer errático cometa de gelo, mas é o mangue, lamacento e salgado, o topônimo da evolução. Seu perfume putrefato e seu húmus pegajoso alastram-se e se imiscuem sobre todos os seres da Terra, sejam físicos ou espirituais, de um mero caranguejo ao venerado Buda. Quando o primeiro passo da jornada de mil milhas afunda sobre a lama, a fortuna se delineia na improvável consistência de mingau orgânico, de infecção telúrica. E quanto mais fundo no pântano da existência, gradativamente se revela a inefável transparência do Curso da Vida, a eterna Luz do Tao.

Nenhum comentário:

Postar um comentário