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17.2.11

Tantra Tao

Lao visitava os esplendores do mundo árabe em Bagdá. Dormindo sobre seu camelo, sonhou com tamareiras que faziam sombra às nuvens, terraços irrigados com alhos gigantes que alimentariam todos os heróis; currais revestidos de mármore onde carneiros do tamanho de bois, bois do tamanho de elefantes e elefantes diminutos como chinchilas pastavam alegremente; minaretes engastados nas montanhas; tapetes mágicos ondulando na brisa do deserto... Lao viu e tudo o que viu não passava de um fractal da opulência do Velho Oriente.

Baahtra, o Sultão, era o maior, o mais gordo e o mais faminto dos homens. Em pé, tinha a altura e o peso de um cavalo de guerra. Sua largura era a de um hipopótamo jovem. Sua origem divina o concedera um pênis de macia madrepérola em ereção contínua. Seus fluídos eram recolhidos constantemente em galões de porcelana que enchiam um evaporante lago no centro do qual repousava. Seu vigor exigia um vasto harém cuja sexagésima quarta parte era usufruída e sacrificada a cada noite, ou do contrário produziria uma descendência comparável à dos ratos.

A montaria de Lao, Camelaozi, desgovernou-se à procura de abrigo e adentrou o Palácio de Baathra. Assustou-se com as dimensões do Sultão, refugou e derrubou Lao Tsé. Erguendo-se do chão, Lao deparou-se com o surpreso olhar real: era uma formiga branca diante daquele imenso ser. Mas não se moveu nem mesmo quando Baathra engasgou com a interrupção de sua sétima refeição e cuspiu dezenas de figos semimastigados aos seus pés. Afastou-os com a ponta de suas alpargatas de couro de dragão e disse:

"- Tua força é apenas aparência. Por dentro, és um barril de esterco. Por fora, bóias em sêmen putrefato".

O sultão nunca ouvira palavras hostis em sua vida. Tomado da cólera dos deuses, ordenou a morte imediata do atrevido visitante. Mil cimitarras surgiram dos vãos do Palácio. Lao curvou 100 lâminas com o pensamento, mais 100 com assobios, outras 100 declamando haicais de autodefesa, etc... até que restou um único soldado. Ele avançou e brandiu sua arma na direção do vulto caquético de Lao. A lâmina cruzou de alto a baixo o velho sábio, partindo-o em dois, e o soldado sorriu com desprezo antes de ver a si mesmo dividido no reflexo da cimitarra tombada. Lao o golpeara com o ar afiado do seu desvio. Diante do sultão, prosseguiu:

"- Comer em demasia e ejacular sem propósito: nem as bestas são assim. Alimenta-te do tantra, antes de te julgares forte".

Baathra urinava de medo, encharcando suas vestes impecáveis, jamais maculadas por um único grão de pó. Lao aproveitou a oportunidade: subiu ao alto de uma das colunas do Palácio e urinou também. Quando o jato alcançava o piso, centenas de metros abaixo, algo incrível ocorreu: o fluxo foi contido e permaneceu estático em pleno ar. E, com uma contração abdominal, voltou a subir, sendo reabsorvido totalmente ao fim de poucos minutos. Concluiu:

"- O que dizer daqueles que não podem controlar seus impulsos? Para reinar 10.000 anos é preciso descobrir o que é ser um homem. Desvelando o homem, compreende-se a mulher, o Céu e a Terra".

Nada mais sabemos de Baathra. Há rumores de que descobriu a felicidade ao abdicar do sultanato, virar mendigo e ser condenado à morte por aliciar todas as concubinas do Império na primeira revolução feminista orgiástica da história.

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