Licença Creative Commons

16.9.10

A fome dos neo-Budas

Lao Tsé mateava em seu porongo de bambu ao nascer do Sol quando a sineta da bicicleta azul assinalou a vinda do Monge Entregador de Jornal. Hábil, atirou com ambas as mãos e pés os 10.000 exemplares diários destinados ao velho Mestre sem se desequilibrar; tão leve estava após a entrega que seu biciclo passou a flutuar acima do solo, e isso porque restavam ainda uns mil gibis do Confúcio.

Lao estava imerso em papel impresso; apenas despontando ao alto a mão com o chimarrão a salvo. Afastou levemente a folha que lhe cobria o rosto. Trazia a seguinte notícia: "Fome diminui no mundo: cerca de 925 milhões de pessoas estão subnutridas em 2010. No ano passado, eram 1,02 bilhão". Apesar das complexas estatísticas considerarem que em cinco anos será possível uma humanidade na qual todos sejam gordos como o Buda, não incluíam o único aspecto ponderado por Laozi ao descartar a página meio segundo depois:

"Se morrem os famintos, não diminui a fome".

6 comentários:

  1. pelo menos salvou o chimarrão!

    tá, brincadeiras a parte... como estatísticas são inúteis quando o assunto é fome...

    p.s. belo blog q pela primeira vez visito!!

    ResponderExcluir
  2. 80 milhões a menos de famélicos são 80 milhões a menos de famélicos. Não interessa como são feitas as estatísticas, considerando que é a primeira redução do número em 15 anos.

    Ninguém está satisfeito com isso, mas é importante levar o dado em consideração.

    ResponderExcluir
  3. Obrigado, Nariz Vermelho! Faltam alguns ajustes ainda, e efeitos subliminares para proporcionar uma meditação imediata aos visitantes. A propósito, seu nariz vermelho é muito bonito! É natural? :-)

    William Attenborough, o Diplomata! hahahahah

    ResponderExcluir
  4. O truque desse Attenbolor é falar sem nada dizer. O que diabos é "levar o dado em consideração"?

    ResponderExcluir
  5. É ver o que foi menos errado no último ano em relação aos 15 anteriores, parar de choradeira imobilizante e proativamente fomentar essas ações.

    ResponderExcluir
  6. Você me enoja. Esse tipo de discurso "proativo", "forte" esconde uma enrolação sobre um fato que é fundamental: estamos irremediavelmente perdidos. Se alguma coisa parece melhorar, é apenas a última respirada antes de a água começar a entrar nos pulmões.

    ResponderExcluir